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Desde 1993, Padre Vito já retornou diversas vezes ao Brasil, mas só com o visto de turista – Crédito: Clemilsom Campos/JC Imagem

Blog: Por quanto tempo ficou sem poder entrar no Brasil?
Padre Vito Miracapillo: Até 1993, não podia entrar. Quando Itamar Franco revogou o decreto de expulsão de Figueiredo, me deram o visto de turista e de 1993 para cá tenho vindo sempre por 20 a 25 dias ao Pernambuco, continuando os contatos com o clero, com a diocese. Só que não podia ficar porque havia a condenação do Supremo (Tribunal Federal-STF). E desde 1993, deputados e amigos tentaram fazer com que a Corte formalizasse o fato que a expulsão tinha sido um problema político da ditadura, e não um crime. Mas ninguém fazia nada. Eu cheguei até a mandar uma carta para o Lula (Luiz Inácio Lula da Silva-PT) porque em 1980, éramos os dois que estávamos com processos. Ele havia processado pela ação desenvolvida com os metalúrgicos, com o sindicato, e eu que fui acusado de ter feito uma greve de 240 mil camponeses lá no Nordeste. O Lula me conhecia porque me deu solidariedade também na época. Mas nada fez. Várias vezes escrevi, liguei para a secretária dele para colocar na agenda um encontro em Brasília, mas não aconteceu nada.

Blog: Mas houve retorno por parte da Presidência, ou nem isso?
Padre Vito: Não, nada. Silêncio absoluto. Então, contatei também o Frei Betto (assessor especial da Presidência), mas também não recebi nenhuma resposta. E quando a Dilma (Rousseff) assinou o documento da Comissão da Memória e Verdade, no mesmo dia, ela assinou o visto permanente para mim. Porque teria sido uma contradição que com aquela comissão continuasse a minha condenação. Agora, nas tentativas que fizemos para receber o visto, estavam querendo que eu recebesse um novo visto.

Blog: Seria como se o Sr. estivesse chegando agora no Brasil, não é?
Padre Vito: Isso. Para dizer de qualquer jeito que o governo me favorecia. Mas eu expliquei claramente que seja pelos amigos que foram tentar a revogação, seja escrevendo cartas, que não queria favores. Queria que se restabelecesse a verdade da história. E que o governo reconhecesse que foi um ato político da ditadura e recebesse aquele visto que eu tinha e que me foi retirado. E lá nunca conseguia. Até que com a Comissão da Memória e Verdade, Dilma assinou o meu visto e o Ministério da Justiça me mandou uma nota pedindo perdão pelo ocorrido em 1980, que aquilo foi ato ilegal e arbitrário da ditadura e que revalidava o meu visto permanente. Em novembro de 2011, assinei os documentos na Polícia Federal e no começo de 2012 me deram o documento provisório e agora o definitivo.

Blog: Então agora o Sr. já conta com o visto inicial permanente?
Padre Vito: A polícia me disse no Recife que a próxima vez que eu chegar posso entrar na fila dos brasileiros e não dos estrangeiros. Já aqui em São Paulo neste final de semana, entrei pela fila dos brasileiros (risos).

Blog: O seu objetivo é voltar a atuar em Ribeirão (PE)?
Padre Vito: Eu não teria problemas, mas o bispo da Itália tem que me liberar. Não teria sentido criar uma ruptura lá para eu vir para cá. Meu desejo é que haja colaboração entre as duas dioceses, e que através do meu caso, ambas colaborem do jeito que a igreja pede hoje.

Blog: No Pernambuco ainda tem padres que pertencem a Diocese de Andria?
Padre Vito: Não porque o outro faleceu em 2000. Mas o bispo de Palmares está de acordo para que eu voltasse, como também o Arcebispo de Recife me ofereceu que entrasse na Arquidiocese.

Blog: É a primeira vez que o Sr. volta com o visto permanente?
Padre Vito: Sim.